terça-feira, 12 de outubro de 2010

Comer, Rezar e Amar

Tenho dois posts aqui que comecei a escrever e nao terminei e, pelo menos, mais uns três que ainda não saíram para o papel (ou para a tela do computador). Sao tantas idéias que me perco nos pensamentos.

Mas, hoje, voltando do cinema, após assistir "Comer, rezar e amar" decidi que não queria escrever nenhum dos posts previamente pensados, mas que precisava falar de mim.

Meu pai tinha me dito "Raquel, este filme é a sua cara". Sim, é a minha cara e a de muitos. Com certeza vários se identificaram com algum trecho e pararam para refletir sobre algo em suas vidas. Eu aqui, como só sei de mim, lhes conto o meu filme particular.

Como Elizabeth, eu decidi libertarme do muito que eu tinha e partir para o nada. Alguns podem pensar "que muito, se vc nao tinha nada?", mas eu tinha tudo... família e amigos ao meu lado, comidinha da mamae, uma casa confortável com um quarto todo decorado à minha maneira, nenhuma preocupação de contas à pagar, roupa passada, casa super limpa,... e eu decidi largar tudo pra me encontrar. Às vezes a gente precisa sair da nossa ilha...

Madrid é qual parte? A de comer, rezar ou de amar? Não sei, talvez as três se encontrem aqui ou quiçá ainda encontre coisas em novos ou antigos, mas futuros lugares. Quem sabe não existe até uma quarta ou quinta parte? É importante cada um escrever o seu livro.

Definitivamente, tenho crescido e aprendido neste quase 1 ano, o que pouco aprendi nos outros 25.

Uma das coisas mais importantes que descobri é que, às vezes, o pouco que se sabe é muito para quem não sabe nada e que, com este pouco, você pode ajudar muita gente. Também me revelei uma ótima dona de casa, algo ao qual sempre tive aversão, mas mostra-se essencial pra qualquer homem ou mulher que queira ser de verdade independente. Cozinhar já não me dá mais medos e me traz muitos elogios. Percebi o quanto é importante tomar cuidado com pessoas e selecionar bem à quem entregar sua verdadeira amizade (mas ainda me mantenho com os 2 pés na frente e, se necessito, ponho um pé atrás; espero NUNCA precisar começar sempre com um pé atrás, para depois lançá-lo à frente). Ainda estou tentando lidar com as diferenças culturais, só que isso sem dúvidas é um novo aprendizado a cada dia, com cada pessoa que se conhece ou cada lugar que se visita. Lembro-me das classes de antropologia na faculdade (estudos sócio-economicos 3) em que o professor dizia que devíamos olhar para uma cultura sem julgá-la comparando com a sua, isso me parece tarefa quase impossível, pois se a todo momento julgamos cada indivíduo, imagina quando vivemos diante de um grupo. Mas tento me lembrar sempre destas aulas depois de cada crítica...

Aprendi a COMER, definitivamente! A quem pensa que eu voltei com a carne vermelha, pode esquecer, mas sem dúvidas aumentei meu cardápio, mas de maneira saudável e sem matar mais animais! Minha mãe sem dúvidas lembra que eu não gostava de brócolis, que hoje em dia acho que é meu prato preferido (ao menos, como a Alice me ensinou a prepará-lo), berinjela sempre tem aqui em casa também. Mel, pelo menos, uma vez ao dia entra na minha dieta e não pode faltar de jeito nenhum! Pão integral que eu sempre odiei, cereais, granola, biscoitos de aveia, abacate e muitas outras coisas! Ah, mas é claro, o chocolate continua a ser diário.

REZAR... nos meus últimos meses de Brasil, minha espiritualidade e minhas crenças, mudaram muito e começavam a crescer quando vim pra cá. Hoje, em minhas meditações diárias ao acordar, a cada dia tenho esta minha espiritualidade mais forte e se manifestando mais. E graças aos deuses, deusas, meus guias ou ao que cada um quiser dar um nome (o importante é esta energia positiva que me dá forças) consigo cada dia seguir neste meu caminho e nesta minha busca de algo ainda indecifrável, mas que irei encontrar para chegar no meu equilíbrio. Um dia, caminhando no centro da cidade do Rio, um rapaz pouco mais velho que eu, que atravessava a rua ao meu lado virou pra mim e me disse "nossa, preciso dizer que você tem uma luz muito bonita" e eu, claro, como cada um de vocês deve ter pensado ao ler isso, sorri, mas também imaginei "ai... a esta hora, neste calor, atravessando a rua no centro, alguém dando em cima de mim, não dá!" e ele lê meus pensamentos "nao estou dando em cima de você nao, só realmente precisava mesmo te dizer isso" e também sorrindo foi embora. Hoje eu vou entendendo melhor estar luz, esta energia e espero poder levá-la a outros. Gracias também a minha avó, a melhor pessoa que já conheci, e que há uns 2 anos, mais ou menos, me orientou em tudo isso.

AMAR... bem, também como a Liz do filme, primeiro preciso esquecer o que está em meu coração. Coisa difícil... é o que falta pro meu equilíbrio. E quando me equilibrar, ojalá, me desequilibre novamente.

Cada dia é uma conquista, cada dia sei mais sobre mim, cada dia descubro um novo ponto forte meu e, acompanhado, um ponto fraco; nestes, tenho procurado trabalhar firmemente. Dou mais valor à cada pessoa e, principalmente, à minha família, que sem eles não seria quem sou. À cada pessoa que ultimamente tem me agradecido por alguma ajuda ou simples palavra que dei, que primeiro, agradeça à minha família. Sabe, uma vez, após um período de discussões com meus pais, porque pra eles era muito difícil aceitar algumas das minhas decisões, aparentemente, loucas e sonhadoras (mas que pra mim sempre foram o meu chão), comecei a conversar com um sábio velhinho e comentei "não sei porque nasci numa família tão diferente de mim, é muito difícil" e ele me respondeu "quando a gente nasce num meio tão diferente da gente, é exatamente porque nesta vida, nós precisamos aprender a aceitar e, principalmente, compreender as diferenças". E aquela simples resposta fez todo o sentido pra mim e hoje eu vou tentando aprender com esta divergência de opiniões entre a minha família e eu, tentando tirar o melhor de cada coisa que me dizem e, não tenho dúvidas, que eles também tem aprendido imensamente a respeitar os, aparentemente, loucos sonhos desta filha.

E ainda estou comendo, e ainda estou rezando, e ainda estou amando... mas eu chego lá! =)

Um comentário:

Daniele disse...

Também me identifiquei, claro. Saudades de vc, menina; se fosse comentar mesmo, seria um post imenso, talvez eu mande um e-mail. Saudade de vc, querida. E, olha, na Australia, também aprendi a gostar de brócolis....rs